domingo, 23 de setembro de 2012

O vestido perfeito ou eu não uso 38 e tenho de aceitar isso


Entidade máxima do guarda-roupa de qualquer mulher, um vestido é muito mais do que a reunião de tecido, botões, zíperes ou outro detalhe que a tendência do momento grite. Um vestido é uma história, uma afirmação, um acontecimento, uma felicidade ou não. Um acerto, um erro, um sonho ou uma promessa – seja ele da Animale, seja de uma fast fashion.
Pois bem, por isso mesmo, ao ser convidada para um casamento de um grande amigo, em que devo encontrar gente que fez parte de uma das fases mais bacanas da minha vida, eu percebi que era hora de algo novo. Não que os vestidos anteriores não servissem, mas ao repassar um por um, vi neles histórias demais. Histórias que já foram contadas, vividas e revistas. Boas ou nem tanto. Um vestido novo era necessário. Um de arrasar para equilibrar aqueles momentos em que o inferno astral mede forças com a gente e parece sempre levar a melhor.
Decidida a encontrar algo da maneira mais rápida possível, entrei em uma loja em que costumo apelar nesses momentos. A marca é das boas, os preços meio altos, mas os vestidos sempre da melhor qualidade, ou seja, vale o investimento.
Gostei de uns três modelos e me apaixonei pela saia de cetim preta com a blusa creme cheia de paetês. Se nenhum vestido der certo, pensei, a saia vai ficar demais com sandálias de tira. Com o provador lotado de peças que obviamente eu não pedi, comecei a triste saga de quem usa manequim bem pequeno e tem de fazer o possível para preencher modelos 38, que chamam de P por aí. Um, dois, três, quatro vestidos e nada, claro. Enquanto não entenderem que 38 não é P, o mundo vai ser um lugar difícil de viver.
Instintivamente, encarei a saia. É ela, pensei. Não deu certo nada antes, porque mesmo sendo bem cara, ela vai ficar incrível em mim, completei mentalmente. Claro que não foi isso que aconteceu. Tudo sobrou, ficou longa demais, a blusa parecia um saco. Sai do provador com um nó na garganta, pensando em como seria bom que minhas pernas fossem mais grossas, que meu corpo preenchesse a saia e que eu fosse o manequim 38 que todo mundo acha legal.
Já pensando nas combinações que teria de fazer com algum vestido antigo para fazer bonito na festa, sim, porque eu já estava para desistir, entrei em uma outra loja, seduzida por um modelo que ficou horrível em mim. De novo: detesto roupa que só tem no P, M e G. O mundo não se divide em P, M e G, alguém explica, por favor.
Vestida e decidida que a única coisa que eu poderia comprar sem pensar naquele dia seria chiclete, a vendedora me diz: olha, tem um aqui, não sei, mas pode ficar bom em você. Ao abrir o provador, foi amor à primeira vista. Era tudo o que eu queria em forma de renda, zíper e plissados. Um sonho em forma de vestido, pequeno o suficiente para ser enquadrado como P , pequeno o suficiente para que meu nó na garganta sumisse e para que eu aceitasse que não sou 38. Lindo o suficiente para eu entender porque perdi tanto tempo em uma loja e saí sem nada: não era para mim, não era o que eu queria – sim, saia nunca foi a ideia original. O novo vestido, que descansa feliz em um cabide próximo a sandália mais alta e linda do mundo que ele ganhou como companhia, reforçou o óbvio que a gente insiste em ignorar: não adianta insistir naquilo que não é para a gente. Vale para o manequim 38, vale para a saia de cetim e vale para a vida. Dener certamente faria uma analogia entre a vida e a moda e todos aplaudiriam.

domingo, 16 de setembro de 2012

domingo, 2 de setembro de 2012

"Jamais diga 'eu'! Sempre diga 'nós'!", Diana Vreeland

Algumas pessoas, bem poucas diante da quantidade de gente que vemos aos montes por aí, têm talentos especiais. E nem digo coisas espetaculares como poderes de cura, beleza sem fim, inteligência acima da média. Falo de gente que tem a capacidade de fazer o simples, o necessário, com um toque diferente. Há aqueles que fazem um café divino, outros que são bons em ouvir - simplesmente o talento para a não ação. Conheço gente que é ótima em procurar emprego, ainda que não precise. Outros que são bons de conversa, daquelas que te enriquece sem te dar nada além de algumas palavras. Bom, Diana Vreeland, a supereditora de moda, era assim. Talento especial.


Em uma época em que o photoshop não existia e que tudo parecia mais real, ela não se apertava diante de uma foto de que não gostava. Juntava as pernas maravilhosas de uma modelo com a cabeça de outra, fazia uma montagem daquelas, publicava e era aplaudida. Diana tinha um talento especial para retratar a beleza e o glamour. Glamour esse que batiza o livro que ela lançou nos anos 80 e que reúne uma série de imagens de fotógrafos consagrados e pedaços de textos escritos por ela em um mosaico que tenta explicar o significado do título da obra. Em uma nova e caprichada edição, com prefácio de Marc Jacobs, a publicação voltou às prateleiras no fim do ano passado. Ganhei de presente de Natal, mas o livro foi ficando naquela pilha de próximas leituras. Pois bem, chegou a vez dele. E eu agradeci por ter chegado sua hora em um momento em que preciso tanto de belas imagens e belas palavras para equilibrar a vida que anda cobrando tanta força e coragem da gente. Logo de cara, Diana prova que o talento especial dela ia muito além da moda. 

"Jamais diga 'eu'. Sempre diga 'nós'", dizia ela. Putz, tá aí a essência do talento dela. E, para mim, a essência para ter talento no viver bem. Quando se pensa no outro, por mais piegas e "poliana" que isso possa ser, vai-se em frente melhor. "Não há nada mais aborrecido do que o narcisismo - a tragédia de ser apenas...eu. Qualquer um de nós é capaz disso. E todos conhecemos exemplos de narcisismo - todos belas tragédias", afirma ela em outro momento de "Glamour". Talento para moda, para as palavras e para a vida. Dener certamente amou Diana Vreeland, talvez em silêncio, assim como, de vez em quando, somos obrigados a fazer na vida. Não tem como não amar.