terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Glitter na crise

Quando a crise de 2008 ganhou força, as passarelas responderam com um minimalismo sem fim e acessórios para durar muitas estações. Naquele momento, cores fortes, detalhes exagerados e afins não pareciam fazer o menor sentido. Por causa disso, um fenômeno ganhou força e respingou em todos os lugares: os baratos esmaltes se transformaram em hit. Toda grife apostou o que pode para manter as clientes comprando a marca, ainda que ela estivesse estampada em um item muito mais barato do que uma bolsa, um sapato ou um cinto. No cenário atual, em que a Europa passa por maus bocados, a moda parece pronta a responder de uma maneira completamente diferente. Londres, Milão, Paris e até Nova York apostaram no brilho, nas pedras e na riqueza (literal) de detalhes para espantar qualquer menção à crise do momento.

Ainda orbitando no campo considerado seguro da economia, o Brasil deve receber essas inflências no outono/inverno, que já começou a pipocar nas lojas por aí. A opulência dessa fase aparece por aqui em peles (sim, já tem no shopping) e em detalhes metalizados de todas as formas e estilos. Dessa vez, ao que parece, a moda responderá com glitter aos problemas econômicos. Dener, bem, Dener aprovaria com certeza, mas não sem antes criar uma polêmica: "prefiro as linhas simples, embora nos modelos de baile use bordados e uma certa dramatização no desenho." Complicado e perfeitinho.

Pensamentos leves e fashion

"Direcione seus pés para o lado ensolarado da rua..."
Dorothy Fields


"A aventura vale a pena por si só"

Amelia Earhart


"Felicidade é possuir um velho jeans e um par de Havainas novo"

Anônimo

Etiqueta tipo exportação

Matéria minha publicada dia 21 de janeiro no 'Jornal da Tarde'

Desde o momento em que o primeiro look da Herchcovitch, marca de jeans capitaneada por Alexandre Herchcovitch, tomou a passarela do Fashion Rio, no dia 10, o Brasil respira a moda nacional. Da temporada carioca, que foi até o dia 14, as atenções se voltaram para a São Paulo Fashion Week, abrigada até terça-feira no prédio da Bienal, no Parque do Ibirapuera. E se os 29 desfiles programados nos seis dias de SPFW – mais os 24 ocorridos no Rio – não são suficientes para provar que o universo fashion nacional está mais aquecido do que nunca, o espaço e prestígio conquistados por brasileiros no exterior ajudam a entender a repetição da máxima “o Brasil está na moda”, espécie de mantra entre os fashionistas.
Há dez anos, Isabela Capeto, de 37, viu pela primeira vez uma criação sua – uma jaqueta – singrar mares e ir parar nas araras da Browns, famosa loja de Londres. Muitos desfiles internacionais depois e atualmente vendendo peças para Estados Unidos, Japão e Espanha, ela prepara os últimos detalhes para ocupar um corner recheado de produtos que levam sua assinatura na festejada loja de departamento americana Macy’s.
“Algumas coisas ainda estão em desenvolvimento, mas teremos itens de moda e alguns da linha casa (de decoração)”, conta Isabela, que preparou bolsas de tecido especialmente para a ocasião. “Fiquei superfeliz de ser convidada por uma loja tão antiga e tradicional”, diz ela, que há cerca de 7 meses foi recrutada para a missão.
Isabela, que se formou na Itália e trabalhou em grifes nacionais como Maria Bonita e Lenny, diz ser perceptível o aumento da atenção dada à moda brasileira desde 2003, quando inaugurou seu ateliê. “Nossa economia mudou e acho que não só a moda brasileira está em alta – as artes, a música, a culinária também”, analisa a estilista. “Eu me lembro que há 20 anos, quando dizia que tinha feito faculdade fora, as pessoas achavam que no exterior tudo era melhor. Hoje isso mudou. O Brasil é visto como produtor de uma moda supermoderna, bacana e feita por um povo muito criativo.”
Isabela já está escalada para mostrar seus bordados em Portugal no meio deste ano, durante uma semana cultural europeia. “Na visão das pessoas, os desfiles de Paris e Nova York são os melhores, mas estou morrendo de vontade de fazer um desfile em Bogotá”, confessa, de olho no futuro.

Menino prodígio
Filho de dois nomes sagrados da moda nacional – o ex-casal Gloria Coelho e Reinaldo Lourenço –, Pedro Lourenço, de 21 anos, tem peças com sua etiqueta espalhadas por Londres, Estados Unidos, China e Milão.
A primeira incursão do estilista nas passarelas francesas ocorreu em março de 2010, quando apresentou em Paris sua coleção de outono/inverno. Responsável pela abertura das apresentações da sexta-feira na São Paulo Fashion Week, Pedro não para.
No fim de fevereiro, ele fará parte do projeto The Vogue Talents Corner, que seleciona e apoia novos estilistas e, mais do que isso, expõe e coloca à venda as peças no e-commerce The Corner, uma vitrine e tanto no mundo fashion. “Lidar com o mercado internacional faz com que a cada coleção eu aprimore shapes e materiais de acordo com os desejos e necessidades de cada lugar. É importante aprender as diferenças, mesmo que sutis, da mulher de cada país”, diz o estilista, para quem o mundo está olhando para o Brasil. “Isso me dá mais oportunidades, mas sou um designer global, a influência brasileira no meu trabalho é subjetiva”, diz ele, que se divide entre São Paulo e Paris. “Mas produzo minhas roupas 100% aqui.” Sorte nossa.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Você vai ter, vai querer ou ao menos vai ver por aí



Fashionista que é fashionista já embarcou na onda, pode reparar. O hit da vez é empilhar uma série de pulseiras fininhas nos pulsos. Chamadas por alguns de friendship bracelets, elas são coloridas, têm uma forte pegada étnica (uma das tendências do momento) e misturam de tudo um pouco. Há modelos com tecidos, contas, pedras, detalhes em metal e o bom e velho berloque. Não por acaso, várias joalherias colocaram em suas novas coleções uma base de metal, que pode ser de prata ou ouro branco - o amarelo aparece nas mais tradicionais-, e um sem número de penduricalhos dos mais variados motivos. Há berloque fofos, em forma de coração, cupcake, sorvete, e alguns mais sérios, que representam viagens, amores e filhos.


Na Accessorize, que está fazendo uma superliquidação da coleção de verão, é possível encontrar boas opções do hit do momento, já com várias pulseiras juntas. Ou seja, compra-se uma e o pulso instantaneamente entra na moda, pulando a etapa do garimpar. It girls do mundo todo já têm friendship bracelets para chamar de seus (de Giovanna Battaglia a Donata Meirelles, passando por Adriane Galisteu). Não demora muito, as pulseirinhas aportarão em todas as fast fashion e aí...bom, aí vira mainstream e sai de moda. Por isso, corra Lola, corra. E que venha a próxima tendência.

Pensamentos fashion de Daniel Craig, se não o mais, um dos mais sexy do mundo

"Passamos um bom tempo conversando como este novo Bond deveria se vestir, qual seria o estilo apropriado para o longa. Não posso adiantar muito, mas Tom (Ford) está terminando uma coleção especial e será um visual completamente diferente dos outros 007"

"Quando fiz '007 - Cassino Royale', fiquei deslumbrado: 'Meu Deus, esses ternos são sensacionais, me caem tão bem'. Agora, não dou a mínima. Se não estou fazendo o Bond, quero usar jeans e camiseta o dia inteiro. Só gosto de me vestir muito bem para ocasiões especiais. Para isso, tenho cinco, seis ternos belíssimos"
Daniel Craig, na 'GQ' deste mês(eu bem acho que ele fica bem também em looks mais lights do que terno ou jeans e camiseta. Só uma opinião, não sei)

Bolsa também é coisa de homem

Matéria minha publicada no Jornal da Tarde, dia 15 de janeiro

Primeiro elas apareceram timidamente nas passarelas internacionais, criando um certo estranhamento na ala masculina. Em seguida, ganharam espaço cativo nas semanas de moda – nas lá de fora, representadas por grifes de peso como Prada, Hermès, Gucci e Louis Vuitton. Naturalmente, foram, ainda que pouco a pouco, conquistando as temporadas brasileiras e alguns adeptos nas ruas. Agora, as bolsas masculinas chegam ao ápice de sua popularidade, marcando presença até na novela das 9 da Globo. Sim, não é por acaso que o chef Renê, personagem de Dalton Vigh em ‘Fina Estampa’, não larga seu modelo tiracolo.



Os homens se renderam de vez ao acessório – até há pouco tempo, associado exclusivamente às mulheres. Mas é bom lembrar: muito antes de esse fato estar ligado a uma vontade de seguir tendências, o desejo masculino pelas bolsas está afinado com a atualidade. “O homem pensa muito nos acessórios de forma funcional e isso hoje virou necessidade pela quantidade de objetos que temos de carregar, como rádio, celular e laptop”, explica o consultor de moda Gustavo Sarti. Adepto das bolsas há um bom tempo, o stylist e apresentador Arlindo Grund concorda. “Saio de casa cedo e só volto à noite. Preciso de espaço para os tablets, fios, carregadores.”


Soma-se à funcionalidade do acessório a diminuição do preconceito da ala masculina no que diz respeito a adotar e incorporar a bolsa ao seu dia a dia. “Acho que nossa cultura é um pouco machista, mas estou vendo muitos homens aderindo às bolsas carteiro, o que já é um grande avanço”, assinala Grund. A consultora de imagem Andrea Muniz acha que o que faltava era informação, ou seja, ter a noção de que se trata de um acessório pop e não restrito a um só grupo ou estilo de homem. “Uma boa é dar um pulinho nas lojas para ver os modelos de perto, experimentar e, como já aconteceu com clientes meus, garanto que o preconceito vai embora.”
E seguindo as leis do mundo fashion, quanto mais a bolsa masculina ganha espaço, mais tipos do acessório pipocam nas passarelas e vitrines. Ainda que o modelo estilo carteiro – ou tiracolo – seja o mais popular, as grifes têm ousado. Bolsas de mão, algumas até com forte inspiração nas carteiras femininas, têm dado as caras.


Bons exemplos foram vistos em setembro do ano passado, nos desfiles da Marc by Marc Jacobs, em Nova York, e da Topman, em Londres. No primeiro, o acessório surgiu com suas alças encurtadas propositalmente. No segundo, e bem mais audacioso, apareceu em dimensão mínima e com possibilidade de ser transportado apenas pelas mãos. “Esse tipo se encaixa para homens mais criativos, que usam looks diferenciados”, diz a personal stylist Titta Aguiar. Arlindo Grund vai mais longe: “Acho que só os fashionistas e formadores de opinião aderem a essa moda”.


Por aqui, marcas como Reserva e Osklen traduzem de maneira cool a atual tendência, que pode ser encontrada também, em estilos e materiais igualmente interessantes, em redes de fast fashion. Independentemente da etiqueta e do modelo escolhidos, a bolsa tem de combinar com o estilo de seu dono e, acima de tudo, ser feita de um ótimo material. Couro é sempre a melhor aposta. Bom também ficar atento ao fato de que, embora sejam ótimas substitutas de mochilas, pastas e, principalmente, bolsos abarrotados, as bolsas masculinas têm lá suas restrições dependendo do ambiente em que transitam. Em locais extremamente formais, pastas seguem como a melhor opção. Em festas que pedem trajes sociais, o melhor é deixá-las em casa também. Diante de tudo isso, basta se acostumar com o acessório e tirar o melhor proveito dele. “Comece pelas bolsas clássicas e vá evoluindo”, recomenda Arlindo Grund.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Danuza em busca da simplificação


Matéria minha publicada no Jornal da Tarde, em 7 de janeiro

Um dia, Danuza Leão, de 78 anos, achou que poderia viver sem um carro. Não teve dúvidas: vendeu seu automóvel e sentiu “uma tal felicidade”. Não demorou, a escritora percebeu que havia dois cômodos em seu espaçoso apartamento onde mal colocava os pés. Teve uma ideia. Era o momento de se mudar para um imóvel menor. “Foi aí a grande virada”, conta ela. Na hora da troca de endereços, se deu conta: teria de se desfazer de uma série de coisas – entre elas, livros, copos, travessas e roupas, muitas roupas.
“Quando você tem lugar, vai acumulando”, contou ela, durante uma despreocupada conversa telefônica em uma das últimas tardes de 2011. Despreocupada, porque em uma época em que as ruas ficam lotadas de gente em busca de presentes, em uma correria quase que insana, Danuza marcou o bate-papo assim que a entrevista foi solicitada. Por telefone – fixo, é claro, já que ela detesta celulares – explicou ter apenas um compromisso: a ginástica. Há algum tempo, Danuza vive assim, valorizando cada vez mais os momentos gastos consigo mesma e eliminando excessos. E é dessa experiência que deriva seu último livro, o ‘É Tudo Tão Simples’.
Recheada de simpáticas ilustrações e de um texto direto, leve e espontâneo – de onde naturalmente brota momentos de humor –, a publicação chega às prateleiras 20 anos depois de Danuza lançar o sucesso ‘Na Sala com Danuza’. Ex-modelo, escritora, jornalista, viajante de carteirinha e com trânsito livre no mundo das artes e da cultura (ela era irmã da cantora Nara Leão e foi casada com o jornalista Samuel Weiner e o compositor Antônio Maria), a escritora tratou de atualizar alguns dos temas presentes no ‘Na Sala’, seu primeiro livro – e uma espécie de manual de etiqueta que se tornou sucesso editorial e abriu espaço para vários títulos do gênero. “Eu mudei e possivelmente minhas leitoras também. Achei que estava na hora”, conta a autora, que escreveu o ‘É Tudo Tão Simples’ durante três meses, com o ‘Na Sala’ do lado, para fugir de qualquer repetição desnecessária.
Nas quase 200 páginas, Danuza fala muito de etiqueta, e aí entra desde a maneira correta de lidar com o guardanapo à mesa até como se deve agir diante de uma separação. Nesse quesito, ela dá dicas de como superar a dor da perda e quanto tempo é elegantemente necessário para que uma das partes do casal apareça de companhia nova. Destacam-se também no livro temas que há 20 anos sequer eram imaginados: as novas configurações familiares e o uso maciço de tecnologia. Há um capítulo que norteia aqueles que, pela primeira vez, poderão fazer uma viagem internacional. “Se dormir, quando acordar, óculos escuros e uma escova básica nos cabelos”, aconselha.
Quando o assunto é tecnologia, Danuza é direta: não suporta indiscrições causadas pelo uso de celulares. “Eu, por exemplo, não consigo almoçar, jantar ou estar junto de pessoas que estão ligadas naqueles aparelhinhos, vendo se tem mensagem o tempo todo. Não dá”, diz a escritora, que também não é adepta de redes sociais. “Vou até o e-mail e só.”
‘É Tudo Tão Simples’ fala ainda de moda. No capítulo batizado de ‘Tem que Ter’, Danuza enumera item por item o que uma mulher precisa ter no guarda-roupa. Tudo sem exagero, claro. “Se a grana estiver sobrando, umas botas de cobra, por que não? Afinal, a vida é curta, e elas não saem de moda, até porque nunca entraram”, escreve ela, que hoje, confessa, não ver muita graça nas vitrines. “Eu adorava, mas era diferente. O Yves Saint Laurent (1936-2008) estava vivo, a roupa que ele fazia era maravilhosa. Hoje não me passaria pela cabeça comprar alguma coisa com a etiqueta Saint Laurent porque não é Saint Laurent”, diz ela. “Acho tudo muito feio, sem estilo. Minha maneira de encarar a moda de hoje em dia é não tomar conhecimento da existência dela.” Seu último desejo fashion ocorreu há mais de seis meses: uma sacola da Givenchy. Danuza procurou, mas não encontrou a bolsa. “Isso me atormentou umas 48 horas, depois passou. A gente sabe que as vontades passam, felizmente”, diverte-se ela.
Ao colocar o ponto final em ‘É Tudo Tão Simples’, a jornalista, assim como fez ao término de seus outros livros, afirmou: “esse é o último, mas eu sempre falo isso”. Tomara que ela mude de ideia mais e mais vezes.