sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Pensamento fashion para uma sexta-feira leve e livre


"Invista em bons calçados. Com calçados apertados não se pensa, não se é feliz"

Costanza Pascolato

Pensamento fashion caseiro

"Os maiores crimes contra a aparência são cometidos com a roupa de ficar em casa...Não se revele na intimidade uma gata borralheira - especialmente se você não mora sozinha. Depois, de que adiantará sair por aí de Cinderela?"

Gloria Kalil, em 'Chic'

domingo, 25 de setembro de 2011

"Os grandes amores também precisam ser suportados"

Se viva estivesse, Chanel teria feito 128 anos em agosto passado. Acho que mesmo que por aqui ainda andasse com seus conjuntinhos e pérolas, ela não comemoraria a data. O clima pesou para o lado dela no último mês. Não faz muito tempo que redescobriram seu envolvimento com um oficial nazista. Concordo que ter um número como prova concreta de que ela colaborou com o regime é dado forte e gancho para um livro - 'Dormindo com o Inimigo', que eu já comprei, mas ainda não li -, mas, assim, acho que exageraram no barulho - tanto barulho que a grife Chanel se viu obrigada a divulgar um comunicado explicando e defendendo sua criadora.

Novidade novidade essa história não é. Todas as biografias sobre Coco, todos os filmes e textos, todos tratam do romance com o tal alemão, ainda que tudo seja apenas graciosamente insinuado. O namoro com Spatz é apontado como um dos maiores erros de sua carreira, mas, assim, sinceramente acho que ela não estava muito preocupada em saber se o escolhido do momento era nazista ou não. Ela estava apaixonada e isso bastou naquele momento. Claro que assim que a guerra acabou, ela teve uma sorte tremenda em não ter de desfilar nua pelas ruas de Paris, mais sorte ainda teve ao se transformar em desejo imediato nos Estados Unidos.


No fim, o envolvimento manchou e tirou um pouco -apenas um pouco- de seu brilho, e ela, bem, ela se safou de qualquer problema relacionado a isso. E por falar nessa paixão toda que ela pareceu sentir por Spatz, nada comparado claro ao onipresente Capel (o grande e único amor de sua vida, que a amou, mas se recusou a se casar com ela por causa de sua origem pobre e que morreu em um acidente de carro), Chanel era craque em falar de sentimento. As coisas não deram muito certo para ela nesse campo, ao menos é o que parece, mas suas máximas relacionadas ao amor seguem enchendo páginas e mais páginas de livros. Em 'O Evangelho de Coco Chanel' há uma série delas e até um capítulo que ensina a aplicar as ideias da estilista na vida amorosa. Bom, isso eu já achei too much, mas as frases de Gabrielle sempre merecem ser lidas. Por um motivo ou outro.


"Os grandes amores também precisam ser suportados"

"As pessoas se casam para ter segurança e prestígio. Não estou interessada em nada disso"

"Sei que eu te amo de verdade, mesmo sem precisar de você", frase dita a Capel

"Perdi tudo quando perdi Capel"

"Eu o amava ou achava que o amava, o que dá no mesmo", sobre o romance com o duque de Westminster

"Deus sabe que eu queria amor...mas quando tinha de escolher entre o homem que eu amava e os meus vestidos, eu escolhia os vestidos"

"Há tempo para o trabalho e tempo para o amor. E não há tempo para mais nada"

"Não perca tempo batendo numa parede com a esperança de transformá-la numa porta"



Bom, Dener defenderia Chanel, certeza. Ele mesmo foi muito perseguido por seus romances. Se solteiro estava, as fofocas sobre sua suposta homossexualidade explodiam. Casado com belas mulhes, era assunto por estar ao lado delas. "Acho que não é muito o meu gênero (gostar de homens). Mas é engraçado...sou uma pessoa que normalmente se impressiona com a beleza...a beleza é, para mim, fundamental. As experiências devem ser muito na base da beleza. Balança muito o meu coreto. A Stella (sua primeira mulher) era o meu tipo. Agora, homem, homem é alto, louro, com os olhos azuis". Para quem não gostava, ele até que era bem detalhista, né? Não tem como não amar mesmo.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O tempo dos lindos é muito diferente (e o da linda também)


Eram 15h50. A sessão de 'Uma Doce Mentira' começava às 16h. Estava longe de ter comprado o ingresso. Adriana Alves, la Chica Guapa, estava atrasada mais uma vez. Eu sabia que isso iria acontecer. Não porque havia trânsito ou porque ameaçava uma chuva lá fora. Ou porque rolava mais uma manifestação na Paulista ou talvez porque o calor era forte demais na rua. É sempre assim. Para o cinema, a balada, o almoço, o jantar. A Dri sempre chega atrasada. Mas isso tem uma explicação, muito bem formulada por Andy Warhol: "Gente linda tem mais chance de deixar você esperando do que gente comum, porque o tempo dos lindos é muito diferente do tempo dos comuns". Acho que não precisa dizer mais nada, né? A Dri é definitivamente uma das pessoas mais lindas que conheço e olha que eu tenho sorte nesse quesito.

Quando ela apareceu assim, linda, loura e bem maquiada no jornal foi um acontecimento. Não porque ela fosse de falar muito e tal, mas porque la Guapa é um acontecimento em si. Impossível não notá-la, impossível não se sentir feliz sabendo que se pode chamá-la de amiga. E por falar em feliz, felizes estávamos no começo do ano, com muita coisa para contar, em uma noite no América. Fizemos os pedidos, chegaram as bebidas: minha, dela e da Poli. Eu me levantei para lavar as mãos, o atendente se atrapalhou e um suco de framboesa caiu sistematicamente na cabeça da Adriana. Ela gritou, o restaurante parou, assim como um pedaço da fruta foi parar em sua roupa. E o que ela disse? "Meu vestido da MOB não. Gente, esse vestido é novo e é da MOB." Bom, isso durou alguns minutos, mas os funcionários não entenderam direito o que exatamente queria dizer "vestido da MOB". Nós entendemos e achamos um absurdo quando o gerente disse que se comprometeria a pagar pela lavagem da peça. Sim, a gente acreditava que eles poderiam pagar um vestido novo, mas ali é um restaurante e não uma loja, aceitamos mais tarde.

O vestido se salvou, como soubemos depois. Mas não seria a falta do tal vestido que arruinaria o guarda-roupa da Chica Guapa. É dela os vestidos mais cheios de bossa, com as estampas mais audaciosas. Tudo o que a gente acha lindo e tem medo de usar fica incrível nela. Até o polêmico macacão fluido cai como uma luva. Isso sem falar nas unhas, sempre perfeitas e com uma cor diferente. É como se ela fosse sócia da Colorama ou algo assim. E a maquiagem dela então? Eu juro que não consigo entender como ela pode ter tanta habilidade com delineador e afins. Resumindo, ela é perfeita.

Perfeição que fica maior quando ela aceita deixar de fazer algo para poder te encontrar e conversar depois de um dia difícil ou quando ela te empurra para ir em um show em fases da vida em que se ficaria fácil fácil indo da cama para o sofá. Nos últimos meses não foi uma nem duas vezes que a Dri salvou o meu dia com sua beleza. Beleza de palavras, de modos, enfim, uma beleza de amizade. Hoje pensei em como ela estaria, já que falamos pouco na semana, e meu celular se manifestou: ela havia acabado de mandar um sms. Estar em sintonia com pessoas como a Chica me faz pensar que, ainda que a vida não ande tão fácil quanto eu gostaria, alguma coisa eu devo estar fazendo de bom para merecer isso. O que me lembra um amigo nosso, nome famoso da música, que disse "é tudo nosso". E quando nada parece nosso? Ele também tem a resposta: "Então dança". Já o Dener, ah, Dener amaria a Adriana e mataria e morreria para aprender a maquiar os olhos da maneira dela. E, olha, acho que eu também, viu?

Pensamento fashion para o primeiro dia de primavera


"Não se joga uma roupa fora só porque é primavera. Sou contra a moda que não dure, é meu lado masculino"

Coco Chanel

domingo, 18 de setembro de 2011

Audrey Tautou: minimalismo encantador

Ah, as francesas. Elas têm um charme, uma beleza natural, uma coisa assim que não dá para explicar. Brasileiras são lindas, mas há algo nas meninas da França que escapam das demais mulheres do mundo. Entre tantos rostos e nomes, Audrey Tautou personifica bem essa graça, esse ar cool. Em 'Uma Doce Mentira', filme que já nasce clássico por falar de amor de uma forma tão leve, Audrey brilha em cada aparição. Engraçada, enigmática, dura, doce e insolente. Tudo ao mesmo, sem cair na caricatura. Para arrematar, ela desfila com looks simples, quase puros, de um minimalismo surpreendente. E encanta com cada um deles. Para ver, amar e copiar, assim como tantas outras francesas que perfumam o mundo por aí. Dener amaria Audrey porque tinha uma coisa que ele não era: bobo. Isso não.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Um grito daqueles que não se quer ouvir


"O último grito da moda não é necessariamente aquele que quero ouvir". Essa frase, que vez por outra aparece nas revistas, é uma das mais sábias que já li. A cada temporada surge uma série de novidades com fôlego para encher até 400 páginas, mas algumas delas definitivamente se enquadram no quesito grito que não quero ouvir, muito menos embarcar. Nesta temporada não há nada que tire o posto de "tirem as crianças da sala" das saias longas transparentes. Coqueluche entre as it girls - juro, Bianca Brandolini já foi fotografada com um modelo desses -, a tal saia da vez é deselegante e nada sexy. Isso sem falar que derruba a mulher, tenha ela 1,80 ou 1,50. Nada pode ficar bem combinado a uma peça que bem poderia ter saído do guarda-roupa de Morticia Addams. É crime fashion, não tem jeito. Dener acharia a saia longa e transparente o fim do mundo, com certeza. E eu, bem, eu concordaria com ele.

domingo, 11 de setembro de 2011

Pensamento fashion para todas as horas

"Ter timing é fundamental - e elegantérrimo. Quando você tem uma percepção mais aguçada do tempo - para identificar o instante de começar, continuar ou interromper alguma coisa - tudo flui melhor. Ter timing é saber o momento certo de sair de cena"

Costanza Pascolato, em 'Confidencial'

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Elas estão com a cabeça quente

(matéria publicada no Jornal da Tarde, no caderno Variedades, em 4 de setembro. Foto: TV Globo/Divulgação)

Queridinhos das famosas e cheios de atitude, os cabelos ruivos pipocam na TV, cinema e vida real

ANA CAROLINA RODRIGUES

Nas últimas festas e premiações da TV e do cinema americano, o vermelho coloriu muito mais do que o tradicional tapete reservado aos astros e estrelas da noite. Uma verdadeira onda ruiva começou a tomar conta dos cabelos femininos no primeiro semestre deste ano e só ganhou força desde então. Musas como Blake Lively e Scarlett Johansson embarcaram na tendência e transformaram as madeixas de tons vermelhos em desejo imediato da estação.

A vontade de esquentar os fios ganhou reforço da presença marcante e graciosa de “cabeças quentes” na TV e no cinema. O premiado'A Árvore da Vida', filme ganhador da Palma de Ouro em Cannes deste ano, por exemplo, traz a bela Jessica Chastain ostentando cabelos ruivos combinados com looks de pegada cinquentinha. Uma união muito sedutora.

Por aqui, a atriz Marina Ruy Barbosa, de 16 anos, é a dona da cabeleira que tem atiçado nas mulheres a vontade de colorir os fios. Intérprete de Alice na novela 'Morde & Assopra', a jovem apareceu em primeiro lugar na lista dos dez cabelos que mais despertaram a atenção dos telespectadores da Globo em julho. “Eu adoro a cor e o volume dos meus cabelos e sempre tentei preservá-los. Quando tinha 10 anos , fui escolhida para fazer a novela 'Belíssima' e queriam cortar meu cabelo. Chorei muito e consegui evitar”, conta ela, que é ruiva natural.

Hoje em dia, no entanto, Marina sabe que, por causa da profissão, pode ter de mudar de estilo e quem sabe, de tonalidade. “Mas vou tentar manter enquanto for possível”, diz a artista, que faz uma hidratação por mês e não sai de casa sem aplicar um bom protetor solar nos fios.

Ruiva há mais de dez anos, a apresentadora Julia Petit, de 39 anos, nasceu de cabelos castanhos, mas é apaixonada por madeixas avermelhadas. “Acho muito chique e sensual, porém é uma cor que requer mais manutenção do que as demais”, explica. Experiente na arte de deixar cabelos impecáveis, Julia conta que o segredo está em descobrir, aos poucos, a cor que melhor se adapta ao estilo da futura ruiva. “O melhor é ir fazendo luzes aos poucos até chegar no tom desejado, para não estranhar”. Ela mesma já teve dificuldade nesse quesito. “Houve época em que deixei um pouco mais claro, mas não me adaptei”. Para manter uma de suas marcas registradas em dia, a apresentadora do GNT usa ampolas de fixação de cor – “os tons ruivos desbotam facilmente”, justifica -, xampu sem sal e não descuida da hidratação. Julia recomenda ainda uma visita ao salão a cada três semanas.

Cabeleireiro da apresentadora Angélica e da presidente Dilma Rousseff, entre outras famosas, Celso Kamura atesta o sucesso dos ruivos levando em conta o movimento de seus salões, um no Jardim Paulista, outro em Campinas (SP). “O pedido por essa cor aumentou bastante nos últimos tempos, cerca de 30%”, conta ele. Segundo Kamura, os fios avermelhados das celebridades não são os únicos que podem explicar esse desejo crescente pelos tons rubros. “No Brasil isso acontece também porque o inverno pede algo um pouco mais quente. No geral, muitas loiras estão optando pelo acobreado e evitando o reflexo.”

Toda a popularidade do ruivo, no entanto, não faz com que ele seja um curinga daqueles que caem bem em todas as mulheres. É preciso levar em conta uma série de fatores, alguns muito mais subjetivos do que a cor da pele, por exemplo, para embarcar sem medo na tonalidade. É consenso que os vermelhos caem melhor para as mais branquinhas, mas o estilo também conta muito. E aí, só cara a cara com o profissional para avaliar o que é mais indicado. “Fica melhor para aquelas que têm mais atitude também, porque é um cabelo para quem gosta de ousar”, analisa Kamura. “É perfeito para as modernas e irreverentes”, completa o cabeleireiro Rodrigo Ferreira, do Studio W Higienópolis. E como se tornar ruiva sem medo? J. Alvim, do Studio W Iguatemi, dá o caminho das pedras. “Cabelos naturalmente nos tons de loiro, claro ou escuro, chegam com mais facilidade ao ruivo, não precisando passar por descoloração”, explica. “Um tonalizante pode dar o resultado desejado. Já as morenas, se não quiserem descolorir, podem fazer reflexos em vários tons de vermelhos que, mesclados à cor natural, dão resultado ótimo. Mas se optarem pelo vermelho total, é necessário descolorir antes”.

domingo, 4 de setembro de 2011

Uma ideia na mão e um sapato na cabeça

Dener tinha problemas com Clodovil. Ou pelo menos, ele gostava que acreditassem nisso. Em suas biografias, há registros de viagens e baladas ao lado do rival. Por isso, acho bem possível que tudo não passasse de uma bela jogada que rendia, e isso eles sabiam bem, publicidade para ambos. Já Chanel detestava mesmo Elsa Schiaparelli, a estilista que ela chamava de 'A Italiana' e que ousou colocar um sapato, feito chapéu, na cabeça das mulheres.


Se a marca de Chanel era a elegância e a simplicidade limpa e pura, Schiaparelli gostava de brincar com a moda, não por acaso, ela criou um vestido estampado por uma lagosta. Elas se odiaram de verdade o quanto puderam e, se fosse hoje, essa relação certamente estamparia capas e mais capas das revistas semanais.

E na onda de fazer valer suas máximas, campo em que Chanel era rainha - ela não perdia a chance de dizer frases de efeito sobre moda, vida e amor -, A Italiana postulou 12 mandamentos para a mulher, maneira de mostrar que ela também podia formular frases. Achei interessante e alguns bem válidos ainda hoje. Então, lá vão eles:
1) Uma vez que a maioria das mulheres não se conhece, elas devem tentar fazer isso
2) Uma mulher que compra um vestido caro e faz mudanças nele, frequentemente com um resultado desastroso, é extravagante e tola
3) A maioria das mulheres é cega para cores. Elas deveriam pedir sugestões
4) Lembre-se: 20% das mulheres têm complexo de inferioridade. Setenta por cento têm ilusões
5) Noventa por cento das mulheres têm medo de aparecer muito e do que as pessoas vão dizer. Por isso, compram um conjunto cinza. Elas deviam ousar ser diferentes (senti uma alfinetada em Coco aqui)
6) As mulheres devem ouvir e pedir apenas críticas e conselhos abalizados
7) Mulheres devem escolher roupas sozinhas ou na companhia de um homem
8) Elas nunca devem comprar com outra mulher, que às vezes consciente ou inconsciente é capaz de ter inveja
9) Ela deve comprar pouco e somente o melhor ou o mais barato
10) Nunca faça o vestido se ajustar ao corpo, mas treine o corpo para se ajustar ao vestido
11) Uma mulher deve comprar preferivelmente em um lugar onde ela é conhecida e respeitada, sem ficar correndo de uma loja para outra experimentando todas as novas modas
12) E ela deve pagar as suas contas

Bem, não sei de onde Schiap tirou tanta estatística, mas alguns dos mandamentos bem cabem ainda hoje. Tirando claro essa parte de que mulher não deve fazer compras com outras mulheres. Vai ver que era por isso que Chanel tinha lá suas diferenças com ela. Dener, bem, Dener certamente odiaria A Italiana também, afinal de contas, ele se considerava a Chanel brasileira. Pode ser que ele via em Clodovil algo meio Schiap ou talvez apenas o tenha escolhido para ter um rival assim como Coco. Mas isso é coisa que ninguém nunca vai saber. Certeza mesmo é que chapéu sapato é para poucas, bem poucas.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Pensamentos fashion para uma sexta-feira fria de uma semana estranha estranha


"Todo dia eu simplifico alguma coisa porque todo dia eu aprendo alguma coisa"

"Hoje em dia a moda é apenas uma questão de comprimento da saia. A alta moda está condenada porque é feita por homens que não gostam das mulheres e querem se divertir com elas"

Coco Chanel (frases tiradas de 'O Evangelho de Coco Chanel')

Ele quer desfilar no palco


(Entrevista publicada no 'Variedades', no 'Jornal da Tarde', dia 28 de agosto)

Fause Haten não costuma falar quantos anos tem. “Não faço a menor idéia”, diz o estilista, entre risos, ao ser questionado sobre o assunto. Se a idade dele não é de domínio público, o mesmo não se pode dizer de sua obra. Com o nome estabelecido no mundo da moda e, cada vez mais, envolvido em projetos que extrapolam as passarelas, Fause acaba de lançar seu primeiro disco, o CDFH. O trabalho é resultado de um projeto que começou a pouco mais de quatro anos, com uma inquietação que o levou a cursos de teatro e canto. Em seguida, naturalmente, Fause se entregou a uma série de shows de janeiro a dezembro de 2010. a experiência se revelou muito mais do que uma necessidade passageira de ir além do mundo fashion. Hoje, Fause quer fazer turnê e gravar um DVD. Isso em meio à concepção da próxima coleção de inverno, de um curso de clown e da gestação de um livro autobiográfico para 2012.

Como chegou à conclusão de que era hora de gravar um CD?
Baseado nas sensações e nas experiências de palco daquele período de shows, resolvi que era hora de parar e fazer um trabalho. Eu e o André (André Cortada, maestro, produtor, compositor e parceiro musical do estilista) pensávamos em fazer um cd com umas seis ou sete músicas nossas e mais algumas de outros compositores. No final, entramos num ritmo tão potente de composição que fizemos quase 20 músicas. Aí falamos: “então é isso”. Não vamos por música de ninguém. Vamos fazer o trabalho autoral, os covers ficam no set do show. Foi um grande aprendizado.

Quanto tempo levou para o disco ficar pronto?
Começamos em dezembro de 2012 e concluímos em julho.

Para você gravar um álbum foi mais fácil ou mais difícil do que pensava?
Não vou dizer que foi fácil ou difícil, posso falar das surpresas que tive. Surpresas no bom sentido. Eu pensava na música como um conjunto e, ali gravando, comecei a pensar na música por instrumento e isso foi muito interessante para mim. É como aprender a costurar, começar a perceber parte por parte daquilo.

Quando pegou o produto final, sentiu que era isso mesmo que queria ou faltou algo?
Não, era exatamente isso. Esse é o meu disco de hoje, não sei qual será meu disco de amanhã. Isso é o que eu tenho de melhor para oferecer hoje. Como tudo na vida, as pessoas podem gostar ou não, mas é um trabalho bem feito, elaborado e com um pensamento poético.

Todas as músicas foram pensadas para o disco?
Sim. Eu e o André nos encontrávamos duas vezes por semana e começávamos a compor. Eu, normalmente, fazia as letras em casa, chegava lá com elas prontas, algumas eu já tinha uma idéia de melodia. Levava para o André o material e ele me ajudava a organizar aquilo.

As músicas falam muito da necessidade do outro, de amor. Foi uma coincidência ou é o reflexo de uma fase apaixonada?
Eu acho que esse CD fala de mim no ano de 2012 e 2011, claramente. Não vou te dizer que tudo isso é autobiográfico. São coisas que eu vi, que ouvi, coisas que vivi de fato. Eu tenho essa coisa do amor na minha vida, gosto de amar, esse é um assunto forte para mim.

Quem você acha que vai comprar seu disco? Quem é seu público?
Não tenho a menor idéia. Estou super curioso, até porque é um disco que tem um certo ecletismo, tem uma coisa forte, mais vibrante, ao mesmo tempo, tem um lado doce.

Quer fazer turnês?
Sim, pelo amor de Deus. É o que eu mais quero. Esse é o grande prazer. É bom ficar no estúdio, mas o bom mesmo é estar no palco. Agora é um pouco a hora de as pessoas verem o trabalho e começarem a chamar a gente. Se me perguntam se vou seguir carreira eu digo que, quando comecei a fazer roupa, eu não sabia se seguiria carreira. Eu só fiz. A mesma coisa vale aqui. Não estou procurando reconhecimento. Já tenho isso. Sabe aquelas coisas que você precisa fazer? Não tem explicação. Pode ser que todo mundo odeie, tenha aversão ao disco, mas eu, Fause, precisava viver isso.

O que ouvia quando era adolescente?
Eu ganhei uma vitrolinha quando era moleque, com dois discos. Um da Diana Ross e um do Elvis Presley. Obviamente, adoro os dois. As vozes masculinas são muito importantes para mim, ao mesmo tempo as vozes femininas negras também me encantam muito, ao mesmo tempo as vozes femininas negras também me encantam muito. Sempre fui muito eclético, peguei toda aquela fase dos anos 1980, de Renato Russo, Paralamas, RPM. Mas eu gostava de coisas esquisitas. Eu assistia a ‘Veludo Azul’ e ouvia aquelas trilhas absurdas.

Sua casa era musical? Seus pais gostavam de música?
Não. Eu sou bem diferente de todos eles, em todos os sentidos.

Chegou a pensar em ter banda quando adolescente?
Nunca na vida. Isso é engraçado, porque hoje parece um coisa natural. Nunca pensei em cantar antes.

O que essa experiência com a música trouxe para sua moda?
Cada dia percebo que meus desfiles se transformaram. Não consigo me conformar em colocar uma modelo andando em linha reta e saindo. Meu ultimo desfile era uma performance. Estou conseguindo exercitar todas as minhas vontades criativas. É muito limitado para mim só fazer roupa. Eu não dou conta.

FACETAS DE FAUSE

Em janeiro de 2006, o estilista recrutou a cantora Maria Rita para se apresentar durante o desfile masculino da coleção de inverno de sua grife, na São Paulo Fashion Week.

O estilista foi responsável pelo figurino do musical ‘Jekyll & Hyde – O Médico e O Monstro’, que estreou em julho do ano passado.

Em fevereiro deste ano, na são Paulo Fashion Week, Fause fez um desfile teatral. Um piano entrou em cena e os presentes viram uma performance de dança.

Textos narrados por Fause, som de caixinha de música, e modelos vendadas e conduzidas pelo estilista na passarela marcaram a apresentação de junho, na última edição da SPFW.