sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Ele quer desfilar no palco


(Entrevista publicada no 'Variedades', no 'Jornal da Tarde', dia 28 de agosto)

Fause Haten não costuma falar quantos anos tem. “Não faço a menor idéia”, diz o estilista, entre risos, ao ser questionado sobre o assunto. Se a idade dele não é de domínio público, o mesmo não se pode dizer de sua obra. Com o nome estabelecido no mundo da moda e, cada vez mais, envolvido em projetos que extrapolam as passarelas, Fause acaba de lançar seu primeiro disco, o CDFH. O trabalho é resultado de um projeto que começou a pouco mais de quatro anos, com uma inquietação que o levou a cursos de teatro e canto. Em seguida, naturalmente, Fause se entregou a uma série de shows de janeiro a dezembro de 2010. a experiência se revelou muito mais do que uma necessidade passageira de ir além do mundo fashion. Hoje, Fause quer fazer turnê e gravar um DVD. Isso em meio à concepção da próxima coleção de inverno, de um curso de clown e da gestação de um livro autobiográfico para 2012.

Como chegou à conclusão de que era hora de gravar um CD?
Baseado nas sensações e nas experiências de palco daquele período de shows, resolvi que era hora de parar e fazer um trabalho. Eu e o André (André Cortada, maestro, produtor, compositor e parceiro musical do estilista) pensávamos em fazer um cd com umas seis ou sete músicas nossas e mais algumas de outros compositores. No final, entramos num ritmo tão potente de composição que fizemos quase 20 músicas. Aí falamos: “então é isso”. Não vamos por música de ninguém. Vamos fazer o trabalho autoral, os covers ficam no set do show. Foi um grande aprendizado.

Quanto tempo levou para o disco ficar pronto?
Começamos em dezembro de 2012 e concluímos em julho.

Para você gravar um álbum foi mais fácil ou mais difícil do que pensava?
Não vou dizer que foi fácil ou difícil, posso falar das surpresas que tive. Surpresas no bom sentido. Eu pensava na música como um conjunto e, ali gravando, comecei a pensar na música por instrumento e isso foi muito interessante para mim. É como aprender a costurar, começar a perceber parte por parte daquilo.

Quando pegou o produto final, sentiu que era isso mesmo que queria ou faltou algo?
Não, era exatamente isso. Esse é o meu disco de hoje, não sei qual será meu disco de amanhã. Isso é o que eu tenho de melhor para oferecer hoje. Como tudo na vida, as pessoas podem gostar ou não, mas é um trabalho bem feito, elaborado e com um pensamento poético.

Todas as músicas foram pensadas para o disco?
Sim. Eu e o André nos encontrávamos duas vezes por semana e começávamos a compor. Eu, normalmente, fazia as letras em casa, chegava lá com elas prontas, algumas eu já tinha uma idéia de melodia. Levava para o André o material e ele me ajudava a organizar aquilo.

As músicas falam muito da necessidade do outro, de amor. Foi uma coincidência ou é o reflexo de uma fase apaixonada?
Eu acho que esse CD fala de mim no ano de 2012 e 2011, claramente. Não vou te dizer que tudo isso é autobiográfico. São coisas que eu vi, que ouvi, coisas que vivi de fato. Eu tenho essa coisa do amor na minha vida, gosto de amar, esse é um assunto forte para mim.

Quem você acha que vai comprar seu disco? Quem é seu público?
Não tenho a menor idéia. Estou super curioso, até porque é um disco que tem um certo ecletismo, tem uma coisa forte, mais vibrante, ao mesmo tempo, tem um lado doce.

Quer fazer turnês?
Sim, pelo amor de Deus. É o que eu mais quero. Esse é o grande prazer. É bom ficar no estúdio, mas o bom mesmo é estar no palco. Agora é um pouco a hora de as pessoas verem o trabalho e começarem a chamar a gente. Se me perguntam se vou seguir carreira eu digo que, quando comecei a fazer roupa, eu não sabia se seguiria carreira. Eu só fiz. A mesma coisa vale aqui. Não estou procurando reconhecimento. Já tenho isso. Sabe aquelas coisas que você precisa fazer? Não tem explicação. Pode ser que todo mundo odeie, tenha aversão ao disco, mas eu, Fause, precisava viver isso.

O que ouvia quando era adolescente?
Eu ganhei uma vitrolinha quando era moleque, com dois discos. Um da Diana Ross e um do Elvis Presley. Obviamente, adoro os dois. As vozes masculinas são muito importantes para mim, ao mesmo tempo as vozes femininas negras também me encantam muito, ao mesmo tempo as vozes femininas negras também me encantam muito. Sempre fui muito eclético, peguei toda aquela fase dos anos 1980, de Renato Russo, Paralamas, RPM. Mas eu gostava de coisas esquisitas. Eu assistia a ‘Veludo Azul’ e ouvia aquelas trilhas absurdas.

Sua casa era musical? Seus pais gostavam de música?
Não. Eu sou bem diferente de todos eles, em todos os sentidos.

Chegou a pensar em ter banda quando adolescente?
Nunca na vida. Isso é engraçado, porque hoje parece um coisa natural. Nunca pensei em cantar antes.

O que essa experiência com a música trouxe para sua moda?
Cada dia percebo que meus desfiles se transformaram. Não consigo me conformar em colocar uma modelo andando em linha reta e saindo. Meu ultimo desfile era uma performance. Estou conseguindo exercitar todas as minhas vontades criativas. É muito limitado para mim só fazer roupa. Eu não dou conta.

FACETAS DE FAUSE

Em janeiro de 2006, o estilista recrutou a cantora Maria Rita para se apresentar durante o desfile masculino da coleção de inverno de sua grife, na São Paulo Fashion Week.

O estilista foi responsável pelo figurino do musical ‘Jekyll & Hyde – O Médico e O Monstro’, que estreou em julho do ano passado.

Em fevereiro deste ano, na são Paulo Fashion Week, Fause fez um desfile teatral. Um piano entrou em cena e os presentes viram uma performance de dança.

Textos narrados por Fause, som de caixinha de música, e modelos vendadas e conduzidas pelo estilista na passarela marcaram a apresentação de junho, na última edição da SPFW.

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