sábado, 26 de outubro de 2013

Não é mais um texto de moda 2

Assim como um texto anterior, escrito e publicado em momento de profunda tristeza há alguns meses, esse não é mais um texto de moda. Embora a São Paulo Fashion Week abra sua passarela na próxima segunda-feira e uma exposição que há mais de um ano enlouquece o mundo fashion - que reverencia a little black jacket da Chanel - desembarque no Brasil também nos próximos dias, aqui não há palavra para elas. Esse texto não é mais um texto de moda, mas sim sobre o lento despertar de uma dor funda, o vagaroso preenchimento de um buraco no peito. A dura luta que é esquecer um amor. Esse texto é sobre a estranheza com que se percebe um riso fora de hora, a surpresa com que se nota a vontade de comprar uma roupa nova. É um texto sobre o alívio que dá ao voltar a ler um livro sem que a cada página seja preciso parar e retomar o pensamento, perdido na revisão inútil de um momento, discussão ou culpa daquelas pesadas que se carrega às vezes. É um texto sobre a necessidade de viajar e voltar: ser feliz como turista ou longe de lembranças me parece mais fácil (não fácil), a cura geográfica pode até existir, mas eu, sinceramente, não acredito em sua duração. É um texto sobre estar de chinelos, com os cabelos molhados e sem maquiagem e ter uma noite incrível em um lugar onde todo mundo parece saído de um anúncio da "Vogue". É um texto sobre aprender a lidar com fiapos de pensamentos que te reconectam à tristeza na hora. Um texto sobre parar, reprogramar e mudar a rota, porque já se sabe que não há nada ali que possa ou deva te interessar. Esse não é mais um texto de moda, mas sim sobre recuperar uma parte perdida. Um texto sobre deixar de lado julgamentos pesados sobre si mesmo. Um texto sobre a vontade de apagar o momento em que inconsequentemente alguém te disse que você não valia a pena. Finalmente, um texto sobre a certeza de que a gente sempre vale a pena, independentemente de quem tenha dito o contrário.

Pensamento fashion da Riachuelo


Já tem data: ocorre no dia 27 de novembro, na esquina da Oscar Freire com a Haddock Lobo, em São Paulo, a abertura da Riachuelo nos Jardins. Além de ser a primeira loja no bairro, terá em seus cabides coleções criadas por nomes que vão de Adriana Degreas a Claudia Leitte. Vale anotar: preços a partir de R$ 29,90. "É uma jogada ousada, maciça e eclética", Flávio Rocha, CEO da loja

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Os clássicos também sofrem

Há algum tempo li uma reportagem, não vou me lembrar onde, em que o jornalista contava a saga que havia se tornado conseguir o que parece ser uma das coisas mais simples do mundo: pedir e beber uma Coca Cola em um bar ou restaurante. A ideia do texto era muito boa e queria provar que hoje em dia a bebida pode chegar de mil formas à mesa, menos da maneira tradicional, apenas ela, no copo. Na matéria, ele contava que o "uma Coca, por favor" era agora interpretado na maior parte das vezes como uma "Coca com gelo e limão, por favor" ou "uma Coca com muito gelo" ou quem sabe ainda "uma Coca Zero com gelo e limão". A Coca, básica, apenas gelada, e em um copo de vidro, bom, essa se tornou mais rara. Só com muito pedido antes. E assim, de uma hora para outra, ficou complicado ter apenas a bebida, alegrinha e cheia de borbulhas, pura, em sua mesa.
Lembrei dessa história ao ir comprar um par de Havaianas. Os chinelos, que encarnavam o que mais despretencioso havia no mundo da moda (se é que eles estavam nesse mundo), ficaram hype e frutas, personagens, desenhos de todos os estilos passaram a estampar seus corpos emborrachados. Estilistas assinam estampas, pedrinhas e penduricalhos mil passaram a fazer parte do que a Havaianas é hoje. Entrei em uma loja querendo o modelo básico, de um cor só. Fiquei minutos em busca dele, mas nada. Mais fácil achar um com o meu rosto desenhado do que um assim, simples e bonito (e mais barato). Quando finalmente encontrei, me vem o vendedor: "se você comprar mais um, ganha um pingente grátis". Dei graças a Deus por só precisar de um mesmo. É, não está fácil para ninguém, muito menos para as versões clássicas dos clássicos. Seja ele uma boa e velha Coca ou um confortável par de Havaianas.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

domingo, 8 de setembro de 2013

Pensamento fashion de Manolo Blahnik

"Eu nunca estive interessado em moda. Eu faço moda, sim. Mas vamos dizer que eu não a sigo", na "Vanity Fair" deste mês.

sábado, 24 de agosto de 2013

Palmas para a campanha da Prada com Christoph Waltz

Um belo trabalho. Apenas.



Mudanças


Dia desses, mudei o caminho de volta para casa. Não porque ele ficaria mais curto ou mais rápido, mas porque seria diferente. A urgência em fazer algo que não trouxesse lembranças ou qualquer outro sentimento prévio veio no ir e vir de dias e semanas em que a única coisa que se quer é que algo mude (para melhor, por favor). E foi justamente assim, em um ambiente ainda pouco familiar, que vi nas ruas o boné usado de uma forma que eu só havia visto na cabeça do Neymar e de tantos outros jogadores de futebol: suspenso na cabeça, criando um volume extra, como quase que não querendo estar ali. E eram tantos os meninos com o mesmo estilo que acabei me lembrando do João. 

Reprodução/Instagram

O João era um garoto bem alto, magro e que amava jogar basquete lá pelos anos 1995. Estudávamos na mesma escola, e eu era apaixonada por ele e pela cor que seu rosto ganhava após horas de jogos infinitos. Sem nunca ter ouvido a voz do João, eu admirei primeiro a maneira simples com que ele se vestia. Era sempre calça jeans e camisetas lisas, principalmente as brancas e pretas. Ele combinava tudo de uma maneira de a calça estar sempre quase caindo, embora segura por um cinto. Nos pés, ele tinha tênis próprios para as muitas horas que ele passava nas quadras de esporte – ele parecia matar todas as aulas para comparecer a todas as de educação fisíca do colégio. Fechando o visual, que me parecia de um bom gosto incrível, ele usava um boné, virado com a aba para trás. Nem preciso dizer que achava aquilo tudo lindo. Acho que foi ali que entendi que não era o dinheiro, muito menos a noção de estilo, que fazia de um homem (menino) um cara interessante. Ele era interessante. Ah, a camiseta branca do João nunca saiu da minha cabeça, assim como a maneira que ele usava o boné. 

Hoje, por aqueles meninos do boné à la Neymar, ele seria visto como um ponto fora da curva, um sujeito por fora do que é legal. Nessa viagem toda, pensei nas mudanças. A primeira delas é que atualmente acho terrível o uso de boné, não há desculpa fashion que alivie um crime desses. A segunda, que o legal parece ser mesmo usar o acessório de maneira que ele não tenha quase que sua função original, que é ficar ali, plantadinho na cabeça, e não com jeitão de querer sair voando por aí. A terceira, bem, essa é sobre a mudança em si. Uma só alteração no caminho de voltar para casa é capaz de trazer encontros inesperados com bonés suspensos e memórias que já pareciam esquecidas. Se a maneira de usar o boné mudou, imagine todo o resto. Só para constar: o João deixou a escola após todo mundo ficar sabendo que a namorada dele havia ficado grávida. Nunca mais se ouviu falar dele, muito menos ele foi visto por aí. Mais uma daquelas mudanças e tanto da vida que deixam qualquer alteração no modo de usar o boné no chinelo.


domingo, 18 de agosto de 2013

Um passo


Quando a vida anda difícil, complicada mesmo, e nada parece fazer sentido, a gente, ou parte da gente, se desliga. Tudo fica desinteressante. As músicas sem graça se tornam mais chatas, as novelas ficam quase insuportáveis e as comédias românticas parecem verdadeiras maldições das quais não escapamos em um domingo frio e chuvoso (evitar o Telecine Touch é sempre o melhor a se fazer, fica a dica). No meu caso, a ausência de algo (ou alguém) e a tristeza sempre se materializam na falta de vontade de comprar qualquer coisa que seja para mim – menos livros e revistas, claro. Preciso de uma bota há tempos, o inverno veio e com ele uma dor funda que simplesmente não me deixa entrar em uma loja de sapatos e me deleitar como eu sei que faria em outros tempos. Necessito igualmente de um scarpin e de uma sapatilha. Mas cadê a coragem de entrar no templo mor da felicidade se sentindo a última das mortais? Não dá, simplesmente.


Já conformada com essa paralisia fashion, entrei por acaso, assim sem qualquer objetivo, em um shopping de São Paulo. E mais uma vez parecia que a única coisa a me conquistar ali seria um café duplo bem forte. Mas qual não foi a minha surpresa ao quase provar uma saia na Topshop? Não demorou, resolvi não só experimentar uma saia e uma calça em outra loja como acabei saindo com as duas em uma singela sacolinha. Pode parecer bobagem para uns ou algo banal para outros, mas a verdade é que ali eu dei um passo. Apenas um, não foi um salto, nada disso. Mas um passo em direção a mim mesma, um passo rumo a algo que nem sei exatamente o que é, mas um passo que me deixa um pouquinho mais longe dessa tristeza toda. E é de passo em passo que se faz um caminho. E, no meu caso, compra-se o que é preciso.

Pensamento fashion para começar a semana com a autoestima no lugar











"Podem dizer o que quiserem de mim, mas não podem negar o meu talento. Isso o público tem que engolir", Dener Pamplona de Abreu (1936-1978)



quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Pensamento fashion para um quase fim de semana


“Roupas e joias devem ser sempre surpreendentes. Quando você vê uma mulher com as minhas roupas, quer saber muito mais sobre ela”
Alexander McQueen
 

sexta-feira, 26 de julho de 2013

terça-feira, 9 de julho de 2013

Não é mais um texto de moda

Há muita coisa ocorrendo nas ruas, nas vitrines e nas revistas. Sim, o vai e vem das pessoas nas grandes cidades revela que os dias vão além das calças listradas que deixaram o começo do inverno preto e branco. No entanto, esse não é mais um texto de moda. É um texto sobre a perda de um amor. Da dor que vem em seguida, do vazio e da vontade de não fazer nada. Da paralisia que se sente diante das coisas mais banais, da chatice que a gente se torna para quem segue nos amando, da saudade que vem nas horas mais impróprias, da incapacidade de ver qualquer valor em nós mesmos. Do apetite que vem com tudo e some em seguida e faz a gente perder quilos sem notar, da perda do brilho no olhar, da vontade de sumir e apagar todas as fotos que revelam aquele olhar perdido. É um texto sobre a falta que o ser amado nos faz, da necessidade de um toque que se sabe que não virá, da ligação que não vai acontecer e da mensagem que não vai chegar. É um texto sobre a vontade de ficar de pijama o dia todo (e olha que nem pijama eu tenho, acho uó), de não querer sair de casa. Um texto sobre a culpa que se sente, das palavras e ações repassadas, uma a uma, em busca de uma explicação que nunca virá. É um texto sobre o medo e o coração acelerado após um sonho ruim. Um texto sobre se sentir sozinha e triste por saber que não foi capaz de dar ao ser amado tudo o que ele precisava porque era só isso que você precisava. Um texto sobre a vontade e certeza de que tentar seria o caminho, um caminho que não existiu. Um texto sobre a dor de amor, sobre a falta de amor. Da certeza de que acabou. Chanel disse uma vez que “os grandes amores também precisam ser suportados”. Verdade. Eu vou suportar e logo mais, espero, voltar a ler as revistas, olhar com olhos atentos as pessoas nas ruas e ter vontade de comprar algo diferente. Por enquanto, só consigo sentir a dor de um amor querido, desejado e admirado que foi embora. Dener certamente passou por isso. Mas aposto que de uma forma bem mais elegante do que eu.

domingo, 16 de junho de 2013

O não julgamento das calças de listras verticais P&B, também conhecidas por zebra doida ou Beetlejuice



Imagina alguém que não pode (nem quer) participar de qualquer julgamento. Sim, porque quando olho no espelho, mais do uma imagem bem familiar, nos últimos tempos tem saltado aos olhos o reflexo do erro. Muitos erros, conscientes ou não. E eles têm origens diversas: ações desastradas, falta de atitude, falta de entendimento e até falta de saber mesmo o que fazer. Mas que fique claro: não são erros que nascem da má vontade, da falta de amor, da falta de comprometimento ou de confiança. São erros que brotam de um coração até bem legal, mas totalmente libriano, portanto atrapalhado por natureza no ir e vir dessa balança.


Isso posto, não posso falar mal das calças listradas P&B que estão por aí, quase com a mesma força com que os sneakers invadiram o país recentemente. E elas têm mais poder: ganharam camisas e deixaram o Brasil verde amarelo com a cara do Beetlejuice (como não se lembrar do personagem?). Não posso criticar o fato de elas terem se tornado uniforme das meninas cool que andam para lá e para cá em São Paulo, muito menos reclamar da presença dos modelos em araras de grife e fast fashion. Sim, todas amam as calças, também chamadas de zebra doida (o que achei bem simpático, até).

Arrisco dizer apenas que acho um pouco chato quando uma tendência de passarela se torna quase agressiva nas ruas por causa de sua onipresença. O que era para ser cool e legal, gerar aquela diferenciação que a essência da atitude de moda busca perde o sentido e vira meio que todo mundo parte de um exército. Um exército sem norte, porque já não se usa mais a calça porque se quer ver em preto e branco, mas porque todo mundo a usa e assim tem de ser. É a diluição do desejo individual. É o último ciclo da moda aniquilando a originalidade que norteia o mundo fashion.

Mas como isso não é um julgamento, não colocarei a calça listrada P&B no mesmo balaio do lenço palestino ou da bota branca. Porque só quem nunca embarcou em uma onda assim poderia julgar e não é o caso. Há muito tempo, lá pelos anos 90, as listras preta e branca verticais também foram mania e não vou esconder de ninguém que tive uma jaqueta e uma bermuda (?!) que formavam um conjunto (?!). E sabe do que mais? Eu achava um luxo! Veredito: declaro absolvida a calça do Beetlejuice (mas que venha uma onda mais leve na próxima moda arrebatadora de multidões. Que Chanel nos ouça!).