sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Danuza em busca da simplificação


Matéria minha publicada no Jornal da Tarde, em 7 de janeiro

Um dia, Danuza Leão, de 78 anos, achou que poderia viver sem um carro. Não teve dúvidas: vendeu seu automóvel e sentiu “uma tal felicidade”. Não demorou, a escritora percebeu que havia dois cômodos em seu espaçoso apartamento onde mal colocava os pés. Teve uma ideia. Era o momento de se mudar para um imóvel menor. “Foi aí a grande virada”, conta ela. Na hora da troca de endereços, se deu conta: teria de se desfazer de uma série de coisas – entre elas, livros, copos, travessas e roupas, muitas roupas.
“Quando você tem lugar, vai acumulando”, contou ela, durante uma despreocupada conversa telefônica em uma das últimas tardes de 2011. Despreocupada, porque em uma época em que as ruas ficam lotadas de gente em busca de presentes, em uma correria quase que insana, Danuza marcou o bate-papo assim que a entrevista foi solicitada. Por telefone – fixo, é claro, já que ela detesta celulares – explicou ter apenas um compromisso: a ginástica. Há algum tempo, Danuza vive assim, valorizando cada vez mais os momentos gastos consigo mesma e eliminando excessos. E é dessa experiência que deriva seu último livro, o ‘É Tudo Tão Simples’.
Recheada de simpáticas ilustrações e de um texto direto, leve e espontâneo – de onde naturalmente brota momentos de humor –, a publicação chega às prateleiras 20 anos depois de Danuza lançar o sucesso ‘Na Sala com Danuza’. Ex-modelo, escritora, jornalista, viajante de carteirinha e com trânsito livre no mundo das artes e da cultura (ela era irmã da cantora Nara Leão e foi casada com o jornalista Samuel Weiner e o compositor Antônio Maria), a escritora tratou de atualizar alguns dos temas presentes no ‘Na Sala’, seu primeiro livro – e uma espécie de manual de etiqueta que se tornou sucesso editorial e abriu espaço para vários títulos do gênero. “Eu mudei e possivelmente minhas leitoras também. Achei que estava na hora”, conta a autora, que escreveu o ‘É Tudo Tão Simples’ durante três meses, com o ‘Na Sala’ do lado, para fugir de qualquer repetição desnecessária.
Nas quase 200 páginas, Danuza fala muito de etiqueta, e aí entra desde a maneira correta de lidar com o guardanapo à mesa até como se deve agir diante de uma separação. Nesse quesito, ela dá dicas de como superar a dor da perda e quanto tempo é elegantemente necessário para que uma das partes do casal apareça de companhia nova. Destacam-se também no livro temas que há 20 anos sequer eram imaginados: as novas configurações familiares e o uso maciço de tecnologia. Há um capítulo que norteia aqueles que, pela primeira vez, poderão fazer uma viagem internacional. “Se dormir, quando acordar, óculos escuros e uma escova básica nos cabelos”, aconselha.
Quando o assunto é tecnologia, Danuza é direta: não suporta indiscrições causadas pelo uso de celulares. “Eu, por exemplo, não consigo almoçar, jantar ou estar junto de pessoas que estão ligadas naqueles aparelhinhos, vendo se tem mensagem o tempo todo. Não dá”, diz a escritora, que também não é adepta de redes sociais. “Vou até o e-mail e só.”
‘É Tudo Tão Simples’ fala ainda de moda. No capítulo batizado de ‘Tem que Ter’, Danuza enumera item por item o que uma mulher precisa ter no guarda-roupa. Tudo sem exagero, claro. “Se a grana estiver sobrando, umas botas de cobra, por que não? Afinal, a vida é curta, e elas não saem de moda, até porque nunca entraram”, escreve ela, que hoje, confessa, não ver muita graça nas vitrines. “Eu adorava, mas era diferente. O Yves Saint Laurent (1936-2008) estava vivo, a roupa que ele fazia era maravilhosa. Hoje não me passaria pela cabeça comprar alguma coisa com a etiqueta Saint Laurent porque não é Saint Laurent”, diz ela. “Acho tudo muito feio, sem estilo. Minha maneira de encarar a moda de hoje em dia é não tomar conhecimento da existência dela.” Seu último desejo fashion ocorreu há mais de seis meses: uma sacola da Givenchy. Danuza procurou, mas não encontrou a bolsa. “Isso me atormentou umas 48 horas, depois passou. A gente sabe que as vontades passam, felizmente”, diverte-se ela.
Ao colocar o ponto final em ‘É Tudo Tão Simples’, a jornalista, assim como fez ao término de seus outros livros, afirmou: “esse é o último, mas eu sempre falo isso”. Tomara que ela mude de ideia mais e mais vezes.

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