domingo, 7 de outubro de 2012

Uma moda arrebatadora, daquelas que arrebatam até mesmo aqueles que não são de se arrebatar

Faz pouco tempo, ouvi em uma conversa a frase “foi algo arrebatador”. Foi uma conversa daquelas que a gente dá tudo para não participar, daquelas que a gente dá tudo para não se importar, mas que, infelizmente, a gente participa e se importa. Ah, como se importa. Pois bem, desde aquele dia, mais do que a conversa, o tal “arrebatador” não saiu da minha cabeça. E não porque eu fiquei remoendo - ok, eu fiquei um pouco, confesso -, mas “arrebatador”, “arrebatadora”, “arrebatar” e todas as variações e flexões que a palavra pode ter passaram a dançar diante dos meus olhos e ouvidos. Nas revistas de moda, no cinema, na orelha de um livro, na cerimônia de um casamento: haja arrebatamento. Cheguei até a pensar “onde é que eu estava que não me arrebatei ou não me deixei arrebatar enquanto o mundo todo, descortinado naquela conversa, arrebatou-se?”.

Estaria eu distraída com a leitura da vida de Amy Winehouse escrita pelo bonachão e simpático Mitch? Ou muito ocupada em apreciar vagarosamente cada palavra das crônicas de Caio Fernando Abreu em “A Vida Gritando nos Cantos”? Será que passei tempo demais decodificando as 916 páginas da September Issue da “Vogue”? Ou ainda me dedicando, aos poucos, a voltar a ouvir Strokes e Ney Matogrosso, depois de um ano inteiro dando aquele tempo deles? Bem, eu não sei. Certeza, só uma: não me arrebatei como os outros. Pelo contrario: o arrebatamento que deu início a tudo isso ainda, de certa forma, doía (dói?) em mim.



Mas aí apareceu uma festa. Festa boa, daquelas que a gente quer estar bonita, ainda que se tenha consciência que isso não seja tão simples assim quando não se tem nos olhos o brilho de algo arrebatador. Vestido escolhido, sapatos passaram a ser o foco. E no meio da tendência neon, que vem com tudo - prepare-se para sapatos verde-limão e rosa choque para todas as horas-, as sandálias presas no tornozelo provaram que não eram apenas coisa de revista. Lindas, altas e delicadas, elas estavam e estão em todos os lugares e melhor: as sandálias do momento são daquelas que transformam qualquer look em um acontecimento fashion. As tiras chegam a ser carregadas de promessas, promessas de noites de glamour, de muita festa e, claro, de encontros – arrebatadores, quem sabe.
Bonitas na vitrine, bonitas nos meus pés na loja e bonitas na caixa, as sandálias presas no tornozelo se transformaram em algo difícil de explicar ao se encontrar com vestido, cabelo feito e maquiagem. Deixaram tudo assim, como posso dizer, leve, fino, harmonioso. Pernas longas e vistosas. Ao mesmo tempo em que eram leveza, eram poder – ou alguém ainda duvida que é preciso mais do que habilidade para aguentar horas em um salto 15? As sandálias ficaram tão lindas, tão imponentes e senhoras de si que era bem possível que se pessoas fossem dariam risada sem motivo – nada tem mais valor do que rir sem motivo.

Como descrevê-las corretamente, sem cometer uma injustiça diante da beleza delas? Bonitas? Pouco. Incríveis? Acho que não. Arrebatadoras, pensei, rindo do pensamento, mas mais do que isso: rindo da capacidade de fazer piada desse arrebatamento todo, do qual, ao menos assim, por causa das sandálias, eu pude participar. E, quando sem as sandálias, eu me senti um pouco por fora desse momento arrebatador, eu pensei: ao menos eles, os arrebatados, estão felizes. E se alguém está feliz nessa, e em todas as outras histórias, já está bom demais. Dener aprovaria as sandálias, certamente, e para não ficar por fora se declararia arrebatado por alguma nova moda ou manequim. Era o jeitinho dele.

A quem interessar possa:
Arrebatar: v.t. Retirar, tirar de um lugar com violência; arrancar: arrebatou-lhe a arma.
Tomar de assalto: arrebatar uma cidade.
Empolgar: arrebatado por seu entusiasmo.
Causar a perda de: uma febre arrebatou-o.
V.pr. Deixar-se dominar pela ira.
Tomar o freio nos dentes (falando-se de cavalo).

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