sábado, 26 de abril de 2014

Gente como a gente. Apenas

Aí a São Paulo Fashion Week rolava em São Paulo, a Gisele Bündchen mais uma vez causando burburinho, os famosos (cada vez mais raros) indo e vindo, a sala de imprensa cheia. Tudo dentro dos conformes. Até que, sentada, já na sala de desfile, assistia a vigésima vez um vídeo promocional do qual eu decorei a música e as frases - sei que decorei porque hoje vi a mesma peça publicitária na TV e batata, me peguei falando antes do narrador. Ao fim da projeção, as luzes se apagaram: as novidades da grife de moda praia iriam ir e vir em instantes. Lá pelo terceiro look, uma garota ao meu lado, que fotografava sem parar, me disse "nossa, essa luz está sendo cruel com as modelos. Que horror." Fiz que não ouvi e segui prestando atenção nos tecidos, nas estampas - e na falta delas - nos calçados, no make e nos acessórios. Mas eu ouvi bem. Ela estava falando do fato de as celulites e imperfeições dos corpos das meninas estarem saltando aos olhos por causa de uma iluminação direcionada para elas. Ouvi tão bem a ponto de notar um certo alívio na voz dela, algo do tipo "até elas". O fato de a garota ter falado durante o desfile já seria o suficiente para me irritar, mas bradar um julgamento ali, protegida na plateia escura e coberta de roupas da moda, me matou um pouco. As modelos são lindas, altas, magras e estilosas, mas acima de tudo são gente. Gente que tem cicatriz, gente que tem celulite e estria, gente que fuma, gente que bebe, gente que chora, gente que posta foto em rede social. Gente. De tanta coisa que vi nas semanas de moda da temporada verão de 2015 - e olha que foram uns 35 desfiles-, o comentário da menina que não tirou os olhos da câmera enquanto julgava as modelos foi o que mais me marcou. Por isso, em verdade vos digo, julgamentos seguem breguérrimos. E eles arruinam qualquer look. Fica a dica.

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