domingo, 28 de junho de 2015

Chegou a hora

Chegou a hora de empacotar tudo, separar o que vai e o que fica. Com dor no coração, percebi que chegou a hora de me despedir dele. Longo, de tecido nobre, vermelho Valentino e caríssimo. A verdade é que aquele vestido maravilhoso já não faz parte da minha vida. Por mais lindo que seja, olho para ele e nada acontece: não me vejo cruzando um salão, uma igreja ou qualquer evento com ele. Não me sinto capaz de estar confortável ali dentro. A pessoa que o comprou em 2009 não existe mais. Emagreci, li muitos livros, amei verdadeiramente, chorei muito pelas perdas do caminho, tive de cair na real muitas vezes, enchi o saco dos meus amigos, trabalhei bastante, fiz muitos plantões, conheci inúmeras pessoas, preocupei minha mãe, me senti culpada, pedi desculpas por coisas que não fiz, julguei e fui julgada, entrei e saí de muitos aviões, comi muito amendoim, comprei uns vestidos novos, usei muita maquiagem e Deus sabe mais o que. O fato é que tudo isso me transformou, e ele vai ter de ficar para trás. O vestido mais caro que já entrou no meu guarda-roupa não vai entrar no meu novo guarda-roupa. Poderia ser triste, mas não é. Já não vale a pena mantê-lo na embalagem fina da loja, todo ensacado, quando ele deveria estar passado, reinando em um cabide prestes a ser usado. Ele merece mais. E eu também. Nossa separação acontece de comum acordo, para a felicidade de ambos. O problema não sou eu nem ele. A questão é que não rola mais. Sem enganação, sem brincar com o sentimento de ninguém, resolvemos ser leais um com o outro: eu levarei apenas o vestido curto de paetês prata, e ele será doado para alguém que o mereça verdadeiramente e o queira com a mesma intensidade que um dia eu quis. Seremos felizes.

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