quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O que ele falou?

Janeiro de 2011. Primeiros dias do ano, eu e Ana Cecília, a Princess, conversávamos pelo MSN. E era tanto assunto, com atualizações quase que de hora e hora, que nossas mensagens de um dia eram capazes de encher páginas e mais páginas de um jornal standard. Pois bem, no meio de uma dessas longas divagações sobre aquele momento - que não demoraria muito se mostraria um dos mais instáveis possíveis -, a Princess interrompeu uma discussão de extrema pertinência, talvez sobre o poder dos chocolates belgas, não sei, para dizer que já havia decidido como seria seu casamento. Paramos na hora de falar sobre o que parecia a coisa mais importante do mundo há segundos e passamos a pensar na festa de casamento. Minha primeira pergunta foi se ela já havia escolhido qual estilista faria o vestido. Caímos no riso. Era essa a questão que ela tinha certeza que eu faria. O pior. Além de palpitar sobre o vestido dela, escolhi o meu: um tomara que caia champagne (claro, eu teria de estar bronzeada) curto e com várias camadas de tecido. Nos cabelos, um coque bem despretencioso e bagunçado. Tanta, mas tanta coisa aconteceu depois dessa conversa, mas nada foi capaz de apagar as lembranças daquela tarde tão cheia de esperança e graça que compartilhamos, ainda que distantes uma da outra, pela internet.

Essas conversas, profundas e viajantes, acontecem toda a vez que eu a Princess nos encontramos. No MSN, na balada, nas festas, na Livraria Cultura. Acho que isso acontece porque nossa amizade nasceu assim, de um papo maluco, em uma madrugada da Barão de Limeira. Eu mal a conhecia e cansada, com vontade sair correndo pela rua, compartilhei com a ainda Ana Cecília (ela seria Princess bem mais tarde e juro não sei direiro porque inventei esse apelido, embora ela seja mesmo uma princesa) uma história daquelas - naquela época, claro. Hoje aquilo não passa de café pequeno. Mas ali, na redação quase vazia, fomos cúmplices pela primeira vez. Desde então foram tantas coisas, ligações de madrugada, choro abafado, risadas sem fim e a certeza de que se ela estiver por perto nada pode ser tão ruim. Foi por isso, talvez, que em um dia que eu faço uma força surreal para apagar da minha memória, eu liguei para ela e disse: Princesa sei que está ocupada, mas por favor, só me ouve. Eu falei o quanto as lágrimas deixaram. E ela, ocupada, me ouviu, me escreveu e deu um jeito de me ver no dia seguinte.

Além dessa presença que me tranquiliza via msn, sms e enche meu dia de alegria quando pode ser pessoalmente, a Princess sempre tem uma pergunta a fazer. Isso confere a ela uma graça sem tamanho. Sempre tem um "o que ele falou?" na conversa com ela, mesmo que não exista nenhum "ele" na história. E a Princess sempre tem uma ideia fashion no meio do assunto. Semana passada, do nada, ela me disse: preciso de um vestido da Diane von Furstenberg. Eu não vacilei: e quem não precisa?

Isso me fez lembrar que antes de ela partir para um ano em Nova York, em 2010, acho, tive a sorte de ser escalada para cobrir os desfiles de Carnaval ao lado dela. A ideia era chegar no jornal às 20h e virar o dia na avenida. Umas 18h, eu acordo com a Princess ao telefone: "Então, com que roupa você está pensando em ir?". E eu: "Para cobrir o Carnaval, você diz?". E ela: "É, eu não sei". Não me recordo da roupa que usamos, só me lembro que no meio da madrugada cismamos com os pés de uns coelhos gigantes de um carro alegórico. Os pés dos coelhos eram enormes e a gente riu dias e dias por causa deles. Até hoje eu não entendi, mas continuo achando engraçado. Assim como achei engraçado o fato de tirarmos lições para a vida de 'Bróder'. No cinema, uma olhava para a outra com a certeza de que algumas falas foram escritas para nós. Foi assim na Fashion Week. Vimos juntas a Cia. Marítima e tiramos de lá mais do que lições de moda. Por essas e muitas outras, eu não me importo em entrar em lojas de sapatos em que a Princess experimenta todos os modelos, sabendo que não vai levar nenhum, e gosto de ter ela por perto quando vou fazer uma aquisição audaciosa na Animale. Dener amaria a Princess, primeiro porque ela é fina e tem Cecília no nome, o que me parece muito nobre. Segundo porque ela é uma presença leve, sempre leve. E pensar que a Princess me deu um livro de conselhos de Coco Chanel. Mal sabe a Ana que é com ela que tenho aprendido as lições mais valiosas.

2 comentários:

  1. Não tenho nem o que falar de uma homenagem tão linda....acho que vc resumiu bem a nossa amizade, que começou despretensiosa e hoje em dia é parte fundamental na minha vida!! fico muito feliz de poder ajudar e ouvir meus verdadeiros amigos em qualquer momento. E vc é uma pessoa muito especial, que eu gosto muito. Espero que um dia vc entenda o quanto as pessoas gostam de você e querem o seu bem. Dou muita risada com vc amiga e ainda teremos muitos momentos felizes juntas. Adoro muitooooo. Beijos. Ana Cecília.

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  2. que lindo texto, digno de uma princesa, no caso duas, a autora e a homenageada! Suas lindas, adoro vcs! Adorei! A Ana Cecília é mesmo o máximo! :) Bjks.

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