segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Cesta básica fashion

(foto: divulgação/acessórios do Extra)
ANA CAROLINA RODRIGUES

A equipe de desenvolvimento têxtil está em reunião. No encontro, uma pesquisa sobre as principais tendências de moda – leia-se tudo aquilo que tem potencial para se tornar desejo imediato – é encomendada. Apresentado tempos depois, o estudo fornece as possíveis (e com sorte, certeiras) apostas da próxima estação. Está tudo lá: cores, tecidos e estampas que nortearão a nova coleção.

O ciclo descrito acima, que se repete a cada temporada e leva até um ano para ser concluído, bem poderia ser o resumo do processo de criação de uma famosa grife ou de uma grande rede de fast fashion. Mas, na verdade, diz respeito ao Extra. Sim, o Extra Supermercado. E ele não está sozinho nessa. As redes Carrefour e Walmart também dedicam cada vez mais atenção ao que chamam de setor têxtil – as empresas não revelam valores investidos na área.

Aos olhos apressados de quem entra nas lojas em busca de comida, produtos de higiene e limpeza, as roupas em exposição podem até parecer um conjunto meio sem graça de camisetas básicas, meias e moletons. Basta, no entanto, um olhar detalhado para encontrar peças em sintonia com aquelas das vitrines dos shoppings e das capas de revista.

“Cada vez mais, estamos valorizando o espaço têxtil, investindo no layout, na exposição das peças, nos manequins que trazem sugestões de combinações”, conta Sidnei Fernandes Abreu, diretor comercial de têxtil do Extra. A preocupação vai além: a divulgação das novas roupas, antes tímida, ganhou reforço. “Para a nova coleção, o Extra trouxe uma revista de 28 páginas, com 130 peças”, conta Abreu. Só para as fotos, foram necessários quatro dias de trabalho.

No Walmart, o setor também é coisa séria e ocupa 12% do total das lojas, espaço em que cinco marcas próprias são comercializadas. Uma delas, a Simply Basic Plus, é destinada a pessoas que usam tamanhos até 54, no caso das mulheres, e 56, para os homens. Além das etiquetas próprias, o Walmart tem ainda parceria com a Fatal Surf (surf wear) e a Sawary (jeans). “O processo de criação é feito internamente por designers que realizam pesquisas internacionais por meio de viagens e análises de tendências, além de acompanhamento de desfiles e workshops feitos regularmente na Inglaterra, com a equipe da Asda (braço do Walmart no Reino Unido) e responsável pela licença da marca George (que atende ao público masculino e feminino da loja com peças contemporâneas)”, diz Cesar Roxo, diretor do departamento têxtil do Walmart Brasil.

Com linhas de roupas para todas as faixas etárias, o Carrefour também conta com uma área de estilo afinada com as últimas novidades das passarelas. Em seus cabides, há de tudo um pouco: desde camisetas e jeans até vestidos e looks para o trabalho. Acessórios, calçados e moda íntima são outros itens que aparecem no setor têxtil da rede – espertamente, posicionado na entrada das lojas.

Febre dos carrinhos
As “roupas de supermercado” não ganharam mais espaço apenas nos estabelecimentos. Cresce o número de consumidores antenados com o universo fashion que compram peças nas redes. E o melhor: não têm pudor em revelar a origem dos looks. Caso da modelo e apresentadora Gianne Albertoni, de 30 anos, rosto que já estampou várias capas de revistas com roupas das mais grifadas.

Pois ela é uma das que gostam de garimpar essas prateleiras. “Já comprei roupa em supermercados várias vezes, em São Paulo e em outros lugares do mundo por onde passei a trabalho”, conta Gianne, que aposta em itens básicos do vestuário em suas compras. “O importante é saber procurar bem”, aconselha a modelo, fã assumida das grandes lojas. “Eu adoro. Vejo item por item com calma. Normalmente, vou à noite e chego a passar horas lá.”

A loira dá duas dicas infalíveis para encher o carrinho ou a cestinha sem medo. “Prefira as peças casuais. Se quiser uma roupa para festa, opte pelos modelos mais básicos e sem estampas”, diz. E emenda: “Deve-se pensar se os itens escolhidos são realmente essenciais para o seu guarda-roupa”.

A consultora de moda Ana Paula Pedras, de 25 anos, também dá suas voltinhas entre as araras dos supermercados e diz que acha coisas bacanas. “Já comprei camisetas, vestidinhos e um suéter”, conta ela, que aponta o preço como fator decisivo da compra. “Se o preço não compensar, é melhor esperar e visitar uma loja de roupas com mais opções e estrutura”, ensina.

A estudante Victória Rocha, de 19 anos, vê nos hipermercados o ambiente ideal para looks originais. “Como não são todas as pessoas que se interessam, você quase não vê ninguém com a mesma roupa”, diz Victória, cuja peça mais cara que comprou em lojas do gênero custou R$ 35,90.

No caso da stylist Marcia Jorge, dois lenços de seda coloridos chamaram sua atenção em uma ida ao supermercado. Ela não teve dúvida: entrou para a turma que compra peças de vestuário por lá. “Eles ficam o máximo, usados no pescoço ou na cabeça. Foi um achado sensacional”, diz ela, que espera que a oferta de peças das lojas cresça. “Já pensou um estilista cool fazer uma coleção exclusiva para algum supermercado?.”

O stylist Arlindo Grund, que ainda não se aventurou pelos cabides dos hipermercados, “por falta de oportunidade”, atesta que dá para montar boas composições nesses estabelecimentos. “Principalmente, se você conhece seu corpo e suas características”, observa ele. A consultora de imagem Andrea Muniz afirma que é preciso atenção redobrada na hora da compra. “Tem de ficar atenta às costuras. Provar as peças é primordial.” Dicas anotadas, é hora de encarar o supermercado com outros olhos e, quem sabe, abastecer o carrinho de produtos de primeira necessidade… fashion.

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