Entre tantas boas histórias de Dener, a que mais me emociona:
"Veio me falar uma senhora muito distinta, vestida com simplicidade mas bom gosto. Expôs seu problema que era mais ou menos o seguinte: a filha ia casar-se com rapaz de família muito rica, contra a vontade dos pais do noivo que reclamavam a condição social da noiva. Era uma moça bem instruída mas que perdera o pai que tinha boa posição, e a família vivia na base de uma aposentadoria de quinhentos réis.
Só de maldade, os pais do noivo deram ao rapaz os presentes mais caros e que só seriam usados por ele; coisas de uso pessoal masculino. Para completar, mandaram que um grande alfaiate preparasse um terno branco especial para o casamento e deram à noiva dezenas de metros de ótima fazenda, pedindo-lhe que preparasse um vestido à altura do casamento. Sabiam que a noiva não poderia pagar um costureiro e não saberia fazer um vestido de alta classe. Pior é que pelos metros, eles forçavam um vestido espetacular. A menina estava chorando dia e noite e a mãe, sem dizer-lhe nada, veio me pedir, também chorando, que a ajudasse.
Desenhei um vestido sensacional e mandei que minhas costureiras o preparassem. As provas foram feitas na cada de uma delas. O vestido não levou minha etiqueta e ninguém, nem a noiva, ficou sabendo quem era o figurinista.
Imaginem o espanto de todos quando a noiva entrou na igreja com um dos vestidos mais sensacionais que se viram em São Paulo. O noivo quase caiu do altar.
Uma das minhas clientes reconheceu alguns dos meus traços, e a mãe da moça acabou cedendo e contando a verdade. Eu disse então que fizera realmente o vestido porque se tratava de uma velha amiga. Como nos contos de fada, tudo acabou bem. A família do noivo dá-se muito bem atualmente com a jovem, que é ótima esposa.
Vocês vêem que de várias maneiras os vestidos podem fazer as pessoas felizes."
De 'Dener - O Luxo', publicado originalmente em 1972
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